segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O Cristo pela Lateral em Outubro


Ele se volta para a baía e para o minúsculo helicóptero em uma tarde. Reto e cercado de tantas curvas. Um ponteiro sem par que mostra horas desconhecidas e que recebe a pontaria de um novo ângulo de câmera. Com os braços abertos equilibra a si e aos outros e larga Outubro, o último mês libriano, nos olhos, como uma indicação de mudança no calendário pessoal.

Wert

A circunstância de entrega, pela 2a. vez consecutiva, do prêmio de ter sido o melhor aluno da sala me deixou atônito: a prova veio com o prêmio. Cada vez entendo menos o porquê isso aconteceu... Foi rápido demais! Então como expandir a alegria? Mais uma confluência daquelas vidas de alunos aprendendo no curso de alemão. Como era de se esperar, isso gerou uma certa competitividade. Meu único desejo é ter com quem comemorar essas conquistas (alguém que dispusesse de tempo e estivesse em conhecimento semelhante ao meu em alemão -fora daquela turma, trata-se de uma utopia aqui no Rio), no momento ou no dia em que elas acontecem. Um prêmio gentil, ácido no sabor mas incógnito na serventia. Num dos lados é apresentado como liquor. A entrega foi rápida e decifrei as palavras como sendo uma água de colônia. Agradeço a intenção do presente mas só bebo se tiver certeza do que realmente é. E se tiver um registro de qualidade e validade expedido pelo Ministério da Saúde da Áustria, Verzeihung!

sábado, 27 de outubro de 2007

O mais alto dos altares


Foi um júbilo muito disfarçado ao presenciar a penúltima aula de alemão. Não é bom compartilhar uma alegria muito expansiva com os que ainda não se irmanam em coração, pois sempre ocorre de ouvirmos julgamentos (silenciosos ou não) por nossa situação social, nosso modo de vida, nossa origem geográfica, nossas atitudes imediatas ou o que mais convide ao rótulo. Assim mantive a serenidade com colegas de classe. Fiquei dono de um grande bem-estar interno pelas coincidências entre meus ideais de vida e o que minha professora construiu pela sua própria vida, seus gestos, o que tinha deixado externar de seus pensamentos e o que materializou com suas ações. Uma vida que ela tem dedicada ao amor e à simplicidade. Outros fatos embora ela não saiba todos: nos unem. Eu pensei na minha nota 9,6 e certamente muitos antes de mim tiraram essa nota e com certeza até 10. Fui a maior nota da turma mas as comparações costumam distanciar nossa visão do verdadeiro objetivo: o de se superar e não aos outros. Uma nota alta no início tenta a personalidade a ser mais relaxada com as próximas etapas mas em todo curso forma-se um conjunto de provas que podem mostrar nota maior ou menor do que a primeira avaliação mas jamais retratarão o que temos de esquecer pelo caminho para chegar até o 1. lugar. São solidões, esforços em vão, falta de material direcionado a dúvidas, incompreensão do alheio com as necessidades de existência, males físicos que afligem o corpo sem que ninguém se aperceba, uma comida pesada, uma deficiência nutricional numa semana, uma noite inexplicavelmente insone. É a vontade de ter dado o máximo e ter se enfrentado, ter redirecionado a vida para um novo objetivo quando muito teve que ruir, ter administrado bem as perdas, ter sorrido e insistido no estilo de vida que é atender a todos indistintamente (tolerância para mim ainda não é uma arte completamente dominada mas que prefiro aprender comigo mesmo a praticá-la já que é uma espécie de disciplina, onde é tratar os outros como gostaríamos de ser tratados). Minha vida pessoal não é sempre compreensível por meus atos e palavras, pois está no pensamento a chave que nubla ou faz brilhar seus trechos, as andanças sem fim. Me senti feliz pois intimamente tenho partilhado pelos olhos, vozes e ações o entusiasmo silencioso que a vida deve ter. Eu e ela fizemos confidências. É um amor apenas espiritual e uma admiração com relação a sua dignidade, o que sinto por ela. Apesar da minha negativa cortês em receber o mimo, na penúltima aula, ela me veio e insistiu em dar o presente da foto. Creio que me deu mais como um estímulo para novas lutas do que para me colocar no primeiro lugar de um pódio. No mais alto degrau do pódio coloco sim a Deus, que merece, pois até aqui me manteve e me deixou crescer e experimentar algumas horas felizes.

domingo, 2 de setembro de 2007

O caminho dos cães ferozes

Repousam falsamente em torno da torre os cães. Ferozes abrem os olhos, levantam e rosnam. Ferozes seguem atrás dos transeuntes. Não guardam apenas a torre, guardam a outra bifurcação do caminho. O trajeto é ascendente até ali e depois continua para a torre e há um caminho mais além que as feras não te deixam lembrar se desce ou sobe. A porteira está aberta e sem humanos próximos. Estão soltos e entregues ao humor. Motocicletas escapem desta estrada, transeuntes não permitam que os cães os avistem. Não corram deles e nem caminhem tranquilamente. Eles o seguirão e seu dono não os chamará de volta. As árvores ao redor não tem tocos onde se possa subir. A mureta dá para um abismo que eles rapidamente alcançam caso se tente subi-la e andar nela. Sua única chance é andar em passo rápido, a qualquer custo, e não enfrentá-los. Um revide chamará atenção dos outros que não te seguiram. Canse-os e peça ajuda aos carros, acenando, que não pararão pois não entenderão que corre perigo. Estará em diálogo permanente com a paciência. Desça até a cancela pois, quando neste ritmo atingi-la, eles retornarão pelo caminho quando parar e descansar.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Júbilo das Energias de Jorge


Tomado por alegria, pela oportunidade de 4 Jorges em nome de Jorge, saí da terra mais firme e fui pra mais perto da areia. Na orla, os pivetes acreditando mais no valor da minha câmera do que nos milagres. Jorge quero o sonho do registro e a morte de dragões do longo prazo. Estes, os difíceis. Me senti bronzeado estando vestido e suado, estando ao vento frio diante de tua presença, grande esperança da luta humana, forma tropical de se aproximar dos faróis maiores da humanidade que resistem aos terremotos, às ondas, aos erros e acertos hesitantes de todos nós. Neste momento me sinto tudo: a fera serpenteante, a lança que vara, o herói que prevalece. Tenho todos dentro de mim e ardo pela oportunidade de uma outra tarde juntá-los como futuro vitorioso, que sobrevem e esmaga a incompreensão do que vejo no presente.

Jorjornalismo

Uma madrugada para Jorge. Uma manhã também. Fogos ao longe e uma longa fila para mostrar sua reza. Uma jornalista para Jorge, ou duas. Ou nenhuma das duas era jornalistas. Ou eram sambistas fotógrafas que comigo encostaram. Um fotógrafo acompanhado de oração: eu. Samba, oração, organização, camelôs-bambas com santinhos, fitas, cordões, broches, faixas, toucas, anéis e tudo isso: junto ou separado, com cerveja, com devoto, com passantes, com policiais, com carros, com vermelho, com branco, sem as cores de Jorge, sem a curiosidade por Jorge, com São ou sem São na própria alma. Sentados, em ginga, com música e com ar apenas vibrando na imaginação, sem-nomes e os com sobrenome: todos ali -dentro e fora da foto- vivendo o dia de São Jorge. Vi velas acesas em torno da Igreja, entrei e vi o azul.

domingo, 8 de julho de 2007

Amores não-contíguos


Fico pensando que muitas vezes amamos nosso próximo e esquecemos que somos um país, e que temos outros conjuntos de próximos, e que além dos nossos vizinhos temos mais. Uma pessoa com outros costumes, outra forma de caminhar, de se apresentar, de saudar. Quando esta pessoa se sente em perigo no seu país, ela tenta escapar, proteger-se tornando-se um refugiado. Somente um coração que tem espaço de entendimento pode conceber tal auxílio pois temos pobres brasileiros que merecem a mesma atenção, investimento e respeito. Porém às vezes podemos ousar e mostrar que não limitamos o amor a nossas fronteiras e que guerras são situações extremas. Temos uma guerra civil aqui no Rio mas qual país ofereceu asilo aos nossos pobres vitimados pela violência? Será que não somos dignos de amor também?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Manifesto do Poente Urbano


Calcularei sim, a área de luz sugada, percorrendo não com os olhos, mas com as vísceras, o facho de sol ainda intenso nas profundezas. Entra na conta cada laranja inter-predial e preso pela sombra das grades, amarelos furtados pelas antenas-agulhas e parabólicas e aquele azul mediador da noite. Patamares invertidos, faixas de penumbra, como uma cavidade de quadrados e cubos subpostos, triângulo-cone invertido de pixels-contornos grosseiros. Desfiro ampliações de cálculo para cada raio que escapou para as janelas. Quero definitivamente a luz, a vulcânica fagulha escapando rumo às calçadas, às montanhas, fugitiva de mim, com quem me racionalizo, sob a qual perdi o igual em mim e ardi sem astúcia.

sábado, 9 de junho de 2007

Sereno

Como película, desdobra-se tênue pela paisagem, o amanhecer. Levemente amarelo móvel o ente arma o elo, veementemente. Abraça a luz ascendente que chega rente e deixa pra trás a treva boba e demente. Semente acampa no céu e põe no mapa sem ente a ama néo. Obra-se o vento-luz e tapam o mês e o ano. Pomo verde sustenta a divisa da era e almeja novidades nas cores das arestas, das frestas, dos frescores.