sábado, 27 de outubro de 2007

O mais alto dos altares


Foi um júbilo muito disfarçado ao presenciar a penúltima aula de alemão. Não é bom compartilhar uma alegria muito expansiva com os que ainda não se irmanam em coração, pois sempre ocorre de ouvirmos julgamentos (silenciosos ou não) por nossa situação social, nosso modo de vida, nossa origem geográfica, nossas atitudes imediatas ou o que mais convide ao rótulo. Assim mantive a serenidade com colegas de classe. Fiquei dono de um grande bem-estar interno pelas coincidências entre meus ideais de vida e o que minha professora construiu pela sua própria vida, seus gestos, o que tinha deixado externar de seus pensamentos e o que materializou com suas ações. Uma vida que ela tem dedicada ao amor e à simplicidade. Outros fatos embora ela não saiba todos: nos unem. Eu pensei na minha nota 9,6 e certamente muitos antes de mim tiraram essa nota e com certeza até 10. Fui a maior nota da turma mas as comparações costumam distanciar nossa visão do verdadeiro objetivo: o de se superar e não aos outros. Uma nota alta no início tenta a personalidade a ser mais relaxada com as próximas etapas mas em todo curso forma-se um conjunto de provas que podem mostrar nota maior ou menor do que a primeira avaliação mas jamais retratarão o que temos de esquecer pelo caminho para chegar até o 1. lugar. São solidões, esforços em vão, falta de material direcionado a dúvidas, incompreensão do alheio com as necessidades de existência, males físicos que afligem o corpo sem que ninguém se aperceba, uma comida pesada, uma deficiência nutricional numa semana, uma noite inexplicavelmente insone. É a vontade de ter dado o máximo e ter se enfrentado, ter redirecionado a vida para um novo objetivo quando muito teve que ruir, ter administrado bem as perdas, ter sorrido e insistido no estilo de vida que é atender a todos indistintamente (tolerância para mim ainda não é uma arte completamente dominada mas que prefiro aprender comigo mesmo a praticá-la já que é uma espécie de disciplina, onde é tratar os outros como gostaríamos de ser tratados). Minha vida pessoal não é sempre compreensível por meus atos e palavras, pois está no pensamento a chave que nubla ou faz brilhar seus trechos, as andanças sem fim. Me senti feliz pois intimamente tenho partilhado pelos olhos, vozes e ações o entusiasmo silencioso que a vida deve ter. Eu e ela fizemos confidências. É um amor apenas espiritual e uma admiração com relação a sua dignidade, o que sinto por ela. Apesar da minha negativa cortês em receber o mimo, na penúltima aula, ela me veio e insistiu em dar o presente da foto. Creio que me deu mais como um estímulo para novas lutas do que para me colocar no primeiro lugar de um pódio. No mais alto degrau do pódio coloco sim a Deus, que merece, pois até aqui me manteve e me deixou crescer e experimentar algumas horas felizes.